Sou professora de Língua Portuguesa, Redação e Literatura há 27 anos. Nunca fui proibida de discutir temas polêmicos como estou sendo agora. As aulas de debate, para desenvolvimento da capacidade argumentativa dos alunos, eram sempre construídas com temas polêmicos que cativavam não só a curiosidade dos alunos, como também a sua vontade de participar e expor argumentos embasados em suas leituras e pesquisas. Isso promovia uma riqueza de reflexões e percepções de que a vida – cheia de descobertas e possibilidades na adolescência e juventude – não é nada simples. Hoje, porém, os temas motivadores dessas discussões precisam passar pelo crivo – leia-se censura – até de nós mesmos,com receio do que podemos enfrentar.
Diante do conservadorismo tacanho que estamos vivendo, seria fundamental falar de relacionamentos abusivos a partir de textos literários de qualidade, conversar sobre o uso indevido das redes sociais como o acesso acrítico à pornografia justamente no período de formação sexual da garotada, levar as meninas a refletirem que “meu corpo, minhas regras” pode representar liberdade, mas também libertinagem, além de poder se tornar um produto de consumo acrítico preso às tramas envolventes desse capitalismo narcisista.
Mas não é essa a preocupação das famílias nem desse governo. Nossas crianças, nossos adolescentes e jovens estão à mercê da ignorância ululante que reina em nossa sociedade. Afinal, a pureza do “futuro de nosso país” tem de estar protegida das más influências de professores formadores de opinião, doutrinadores e usuários de mamadeira de piroca. Essa é a nossa escola sem partido! Totalmente cega do que essa juventude está consumindo na Internet e reproduzindo em seus relacionamentos sociais.
O produto disso tudo se verá muito em breve.