Se a preocupação é realmente com o direito ao nascimento das vidas intrauterinas geradas, a sociedade precisa deixar o conservadorismo de lado e eleger a educação sexual nas escolas e a distribuição e o uso de métodos contraceptivos como políticas públicas concretas, para evitar gravidezes indesejadas e transmissão de DSTs. Isso não é sinônimo de libertinagem nem de ideologia de gênero. É visão social e humana de uma realidade que sempre existiu e sempre existirá. Somos seres sexuados, quer homens e mulheres conservadores queiram ou não aceitar.
Não dá pra ficar na ilusão de que a religião, uma família “ajustada”, homeschooling, uma criação controlada etc. etc. etc. vão preservar todos igualmente de determinadas experiências. Também não dá para ficar numa pregação cíclica de que a nossa sociedade está perdida e em pecado e nossas crianças precisam ser salvas da imoralidade e, para isso, nada mais fácil do que a censura, “mandem queimar todos os fusos do reino!” (vocês se lembram deste conto de fadas?).
Ao contrário da ideia plana que se prega, é preciso, sim, salvar o mundo, o Brasil, os brasileiros, mas da pobreza, da desigualdade, do racismo, das doenças, do abandono social, da hipocrisia ou ignorância de pessoas que, em suas bolhas, acreditam que sexo é pecado e, por isso, não falar sobre ele vai salvar nossas crianças.
Sempre me lembro, quando reflito sobre essas questões, do conto “A Bela Adormecida”. Aurora viveu numa bolha protegida do fuso – uma bela metáfora fálica – até a chegada de sua puberdade, mas…
A ignorância vive tentando tapar o sol com a peneira.