Os textos de Paulo Freire eram escritos à mão e depois digitados no computador pela secretária Lilian Contrera. Com ajuda dela, Freire costumava revisá-los na tela, trocando parágrafos de lugar, substituindo palavras e esclarecendo raciocínios, se preciso.
Sua última “carta” não foi revisada. Leia a seguir o último fragmento de Freire:
“(…) Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor.
Se a educação sozinha não transforma a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda.
Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos.
Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.” (grifo meu)
Texto retirado da Folha de São Paulo, de 11 de maio de 1997.