Marielle Franco

Embora com sorriso natural do meu ser no rosto, passei o dia abatida. Atribuí ao estresse e cansaço do dia anterior. Almocei na cantina do colégio. Vomitei tudo. Tomei duas Neosaldinas. A cabeça não parava de doer. Mas não tenho o hábito de tomar remédios assim… Cheguei em casa, fiquei meio prostrada. Nem ânimo para beber meu vinho diário tive. Não saí pra andar. Não fui à Cinelândia. Liguei a TV pra ver TV, telejornal, coisa que não faço há anos. Foi aumentando o meu mal-estar. Parei. Saí da frente da TV. Fugi para o banho e chorei. Entendi que estava de luto. De luto e com medo. Às vezes, as coisas não são claras nem pra nós mesmos. Não sou boa em discussões políticas, mas sou pura ação política em minha vida e em minhas concepções, mesmo não sabendo nomeá-las.

O texto que segue em itálico não é meu. Foi escrito por um professor de Sociologia, Alexandre Maia do Bomfim. Fui apresentada a ele uma vez, mas não tivemos tempo para conversar de fato. Trabalho, no entanto, com sua irmã e a considero muito mais do que uma simples colega. É uma forte e, ao mesmo tempo, suave companheira. Uma boa amiga que muito me ensina sobre identidade e vida social em distintos meios.

Faço minhas as palavras de Alexandre, neste momento em que me sinto órfã da vereadora que escolhi para me representar na Câmara do Rio de Janeiro. Segue seu texto.

Para você que não entende o quanto é grave o atentado covarde à Marielle Franco, já que é mais um em nosso “assassinato de cada dia” no Rio de Janeiro, já que ao seu lado morreu outra pessoa e não obteve destaque, vale uma explicação rápida…

Ela é a profeta desse cotidiano brasileiro, em que os meninos negros são mortos mais facilmente e as mulheres sofrem a violência desses machismos evidentes e dos não evidentes que alguns insistem em amenizar…

Ela é a profeta das mulheres, especialmente a das negras, que experimentam ainda mais fortemente as mazelas que uma parte da sociedade finge não existir ou finge não ter responsabilidade…

Ela é a profeta dos negros, das mulheres e dos periféricos. Ela é a profeta dos inocentes, como a de seu motorista, Anderson Pedro Gomes.

Ela é a profeta dos pobres, dos desassistidos, dos perseguidos, dos desprotegidos…

Ela é a profeta que falava nas comunidades, apesar de ter assumido um palanque no mesmo Estado que a matou…

Ela é a profeta que parecia protegida, apesar da potência de suas denúncias, porque seria ousadia demais que esse Estado excludente se revelasse tanto…

Ela é a profeta morta no auge de sua militância. E agora, Marielle é a mártir da VERDADE que sempre anunciou!

Entendeu agora?

Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua, Rua!!!!

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