Texto publicado no jornal O Globo, em 16 de outubro de 2017.
No momento em que se definirão os critérios sobre o que se pode ensinar nas aulas de religião, há que se considerar o paradigma ecumênico
No momento em que se definirão os critérios sobre o que se pode ensinar nas aulas de religião, há que se considerar o paradigma ecumênico: serão necessárias a comunicação e cooperação inter-religiosa. É fundamental o diálogo filosófico-religioso, mais intenso, entre historiadores das religiões que levam a sério o pluralismo religioso e que possam meditar e ensinar sobre a vida e os problemas da espiritualidade do nosso tempo. Através da multilateralidade religiosa poderá haver o entendimento e a compreensão do jovem. Este entenderá, assim, que é necessário renovar-se para a concórdia e exercitar a autocrítica para a tolerância. Na base do programa que deverá ser transmitido, é fundamental que se programem princípios e valores, norteadores de uma teologia de paz que tente alcançar, não através do silenciamento da questão da verdade, mas pelo compromisso em eliminar os conflitos, o terrorismo, tantas vezes causados por interpretações equivocadas dos livros religiosos.
A teologia da paz exige um estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens, verdadeiramente ecumênica, de relevância ético-política e orientada para o futuro. Os pedagogos que construirão o programa do ensino religioso nas escolas públicas devem ter em vista que a preservação do respeito e da dignidade, como fruto da evolução humana, é vital para garantir o bem-estar dos indivíduos, crentes ou não crentes; que o conceito da ética nos convida à interdependência religiosa, entendendo que todas coexistam e se respeitem, sempre buscando o equilíbrio; que haja a convicção de que não há paz religiosa sem diálogo inter-religioso na pós-modernidade.
Acreditamos no surgimento de uma sociedade “pós-materialista” ou, como apregoa o historiador Robert Fogel em “The Fourth Great Awakening”, a emergência de uma agenda ético-política para o século XXI, na qual o desenvolvimento dos valores espirituais tenham primazia sobre as questões estritamente econômicas. O desafio da felicidade do homem se tornará muito mais uma questão de psicologia do ecumenismo religioso e de ética do que propriamente de economia. O exercício da liberdade religiosa sob a égide da razão e da ética conduzirá à paz e à felicidade. A bondade moral do homem é suscetível de um aprimoramento ilimitado através da união e do ponto de vista das diferentes crenças.
Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor