Nós podemos discutir nossos pontos de vista, podemos tentar encontrar um denominador comum, mas, no fim, a verdade é que aquilo que você busca na vida não se alinha com os fins aos quais dedico toda a minha vida. Valores muitas vezes podem se chocar no peito de um único indivíduo; e disso não deriva a conclusão de que uns são falsos e outros, verdadeiros. (p. 30)
Perdoem-me a ignorância, mas nunca tinha ouvido falar em Isaiah Berlin até vê-lo mencionado na autobiografia de Tara Westover que li há poucos dias. Curiosa com o conceito de “liberdade positiva” e “liberdade negativa”, que, segundo a autora, este filósofo criou (ainda quero adquirir o livro que trata dessa questão), comprei este pequenino livro, contendo apenas dois textos dele, a fim de conhecê-lo um pouco e sentir a sua linha argumentativa.
Chegou e li rapidinho (é bem pequeno mesmo!). Achei muito interessante.
Neste livro, o autor apresenta – de forma sucinta, mas não sem essência, e quase que num fluxo de consciência filosófica sintetizando ideias – pensadores e culturas diversas para mostrar o quanto são sangrentas e desumanas quaisquer ideologias totalitárias.
Berlin expõe, de forma clara e precisa, que não há como existir, com base na humanidade que conhecemos, um mundo com valores únicos, homogêneos:
Devemos dizer que um mundo no qual valores incompatíveis não estão em conflito está além de nossa compreensão (…) (p. 32)
E acrescenta que
A noção de um todo perfeito, a última solução, em que todas as coisas boas coexistem, me parece não só meramente inalcançável – isso é um truísmo -, mas também incoerente conceitualmente. (p. 32)
Tenho que dizer ainda que esse filósofo por quem acabei de me encantar (preciso lê-lo mais), de certa forma, lavou a minha alma. Acho que as palavras dele são autoexplicativas:
Felizes aqueles que vivem sob uma disciplina que aceitam sem questionar, que obedecem livremente às ordens de seus mestres, espirituais ou mundanos, cuja palavra é totalmente aceita como uma lei sagrada; ou aqueles que tenham, por seus próprios métodos, chegado a convicções claras e intocáveis, que não admitem quaisquer dúvidas, em relação a como ser e o que fazer. Eu só posso dizer que esses que se mantêm nesses leitos confortáveis do dogma são vítimas de uma forma de utopia autoinduzida, faróis que podem bastar para o contentamento, mas não para o entendimento sobre o que é ser humano. (p. 33)
É isso! Adoro ler livros assim, não planejados, que me aparecem de repente, por meio de outras leituras.
BERLIN, Isaiah. Uma mensagem para o século XXI. 2a. ed. – Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2020.