Somos todos terraplanistas em algum grau

É real! Conheço uma pessoa muito próxima que diz acreditar que a Terra é plana. Parece assustador, por vezes até cômico de tão absurdo; entretanto a verdade nua e crua é esta: as pessoas estão abertas a acreditarem em qualquer ou quaisquer coisas que lhes preencham a vida e lhes deem algum sentido à existência, por mais absurdas que possam parecer.

A questão, porém, pode ir muito além. Até mesmo pessoas que riem do absurdo e, por vezes, dizem sentir pena do incauto (neste caso específico incauta), podem estar no mesmo barco, quase à beira do fim do mar para cair lá naquele precipício… da planitude terrestre. É que quem atua por trás da divulgação e convencimento de informações tão distorcidas como a da “Terra Plana” tem um projeto muito elaborado. Esses criminosos (porque a desinformação preconizada também é crime) sabem que as pessoas são movidas por paixões, emoções, medos, raiva… e precisam de ideias que sustentem, respondam ou aliviem suas dores e angústias. Então criam-se várias ideias com níveis de credibilidade dos mais absurdos, como o terraplanismo e a não ocorrência do Holocausto (aliás o filme “Negação”, baseado em fatos reais, com Rachel Weisz e Timothy Spall, trata do assunto de forma bem atual), até menos inaceitáveis, por exemplo a dúvida sobre a vacina. Isso significa que do comunismo vivo hoje ao marxismo cultural; da mamadeira de piroca ao nazismo de esquerda; da crença na cloroquina à descrença na eficácia da máscara para diminuir contaminação pela Covid-19, da igualdade racial ao racismo como mimimi etc. etc. etc., vivemos em inúmeras micro terras planas da informação limitada, limitante, acrítica e distópica.

Os motivos para isso são muitos. De quem acredita, a causa vai desde a desinformação real até a ingenuidade e carência ou até um moralismo (para mim sempre hipócrita); de quem cria e divulga essas inverdades, a falta de escrúpulos e os interesses escusos. Isso fica bem claro nesse filme já citado, que conta a história de um julgamento que realmente aconteceu em 1996. Um escritor, negacionista do Holocausto, processa uma historiadora com carreira acadêmica robusta que se nega a debater com ele por não admitir que fatos sejam questionados. A historiadora Deborah E. Lipstadt chama atenção bravamente sobre a diferença entre fato e opinião. Vemos o quanto se confundem e se deturpam hoje essas duas esferas com propósitos tão inescrupulosos quanto os do falso historiador David Irving, que ganhava dinheiro escrevendo livros negando o Holocausto e foi desmascarado. Isso me lembra muito um tal aí que se diz filósofo, mas pelo seu palavreado, suas teorias conspiratórias e sua desonestidade, embora arraste e ganhe dinheiro com tolos e desequilibrados e tenha conseguido chegar aonde chegou, não passa de um falso mestre. 

É a vida! Sigamos! E que tenhamos garra e discernimento para enfrentar os anônimos que estão se formando por aí e vão moldar novas teorias conspiratórias e inúmeras anedotas para caluniar muita gente.

Ler, informar-se por meios distintos é a base primeira para tornarmo-nos mais preparados para este momento. Quem acredita que há algum veículo de informação sem ideologia ou com imparcialidade já parte de um pressuposto errado, então, não vai conseguir sair de sua bolha.

Os negacionistas estão crescendo em progressão geométrica. Temo tempos ainda mais difíceis e conturbados. Infelizmente.

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