Este foi o primeiro livro escrito por bell hooks, mas é o terceiro que leio desta grande autora. De forma bem clara e direta, ela nos leva a uma viagem pelo racismo desde o início do processo de escravização, até a contemporaneidade.
Sem desmerecer nenhum dos capítulos, pois são todos fortes nessa triste e absurda realidade que construímos (Sim! Somos responsáveis tb por isso.), destaco a leitura do início como profundamente dolorosa. Como branca em minha descendência (na nossa visão brasileira), envergonho-me com a desumanidade e a crueldade praticadas e reproduzidas até os dias atuais.
Embora trate de questões raciais gerais, hooks destaca a invisibilidade da mulher negra:
“Quando falam sobre pessoas negras, o sexismo milita contra o reconhecimento dos interesses das mulheres negras; quando falam sobre mulheres, o racismo milita contra o reconhecimento dos interesses de mulheres negras. Quando falam de pessoas negras, o foco tende a ser homens negros; e quando falam sobre mulheres, o foco tende a ser mulheres brancas.” (p. 26-27)
bell hooks expõe essa inviabilidade em diversas partes do livro e denuncia o racismo existente até entre aquelas pessoas que deveriam ser mais abertas por sofrerem também com as limitações e preconceitos impostos por uma sociedade patriarcal.
“A força que permite a autoras feministas brancas não fazer qualquer referência à identidade racial em seus livros sobre ‘mulheres’, que são, na verdade, sobre mulheres brancas, é a mesma que forçaria qualquer autor que fosse escrever exclusivamente sobre mulheres negras a se referir explicitamente à identidade racial delas. Essa força é o racismo. Em uma nação imperialista racista como a nossa, é a raça dominante que se reserva o luxo de dispensar a identidade racial, enquanto a raça oprimida é diariamente lembrada de sua identidade racial. É a raça dominante que consegue fazer parecer que sua experiência é representativa.” (p. 221-222)
Vale muito a leitura. Principalmente nesses tempos tão sombrios.
HOOKS, bell. E eu não sou uma mulher?: mulheres negras e feminismo. 3a ed., Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.