Querendo retomar algumas leituras de Paulo Freire que estavam lá no meu passado de formação como professora para tentar digerir este momento presente, li, em maio, a biografia O Educador: um perfil de Paulo Freire, escrito pelo professor doutor em História e Filosofia da Educação Sérgio Haddad. Vale muito a leitura!
O que posso dizer é que foi maravilhoso viajar pela vida de Paulo Freire por meio desta biografia. Percebi coisas que desconhecia porque, até então, só havia lido textos teóricos do próprio educador. Acredito que seria muito bom (utopia?!) que as pessoas que hoje o criticam e o condenam conhecessem um pouco sobre Freire, sua teoria e propostas. É triste constatar que nós, brasileiros, mantemos o péssimo hábito de desvalorizar e menosprezar nossos grandes nomes. Nomes esses que lá fora são reconhecidos e estudados como Paulo Freire é.
Aliás, meu genro, americano, exatamente agora durante o Doutorado em Linguística na Universidade de Houston leu dois títulos de Freire, dentre os quais o clássico e imperdível Pedagogia do oprimido. E que fique registrado: os americanos não leem gratuitamente autores estrangeiros nem têm a exigência de mostrar nas referências bibliográficas de seus artigos e tese essas leituras, como aqui somos exigidos. Eles valorizam primeiramente a sua própria produção. No entanto, Paulo Freire aparece em inúmeros cursos lá nos EUA e também na Europa.
Às vezes, acho que meu lado Pollyanna aparece ingenuamente, mas seria muito importante entender que, mesmo para quem não concorda com a sua teoria, Freire tem um valor inestimável para a valorização não só de nossa educação, mas também de nosso país. No entanto, vejo cada vez mais que o que se produz aqui é pura autodestruição.
Me assusta o cúmulo do ridículo do mais novo ex-ministro da deseducação. Que ele fique com o “abracinho” que merece bem longe daqui. Fugiu da realidade paralela que queria nos impor por causa de sua alucinada incompetência.
Termino com as palavras doces e respeitosas de Paulo Freire, quando, em 1989, tentou realizar um trabalho na Secretaria de Educação de São Paulo:
Não vamos impor ideias, teorias ou métodos, mas vamos lutar pacientemente impacientes, por uma educação como prática para a liberdade. Nós acreditamos na liberdade. Queremos bem a ela. (p. 202)
Eu também acredito na liberdade, amado Freire! Prezo-o e prezo-a muitíssimo, mas parece que estão querendo arrancá-los, você e a liberdade, de nós.
HADDAD, Sérgio. O educador: um perfil de Paulo Freire. São Paulo: Todavia, 1a. ed., 2019.