Após ouvir as palavras de um pastor progressista (não sou evangélica, mas acho que é assim que são chamados os religiosos que se mostram lúcidos e críticos em relação ao momento que estamos vivendo, não é?); após ouvi-lo (Ed René Kivitz), resolvi comprar e ler Contra o ódio, da escritora alemã Carolin Emcke. O livro é bastante impactante e totalmente pertinente aos dias atuais. Cabe para a sociedade alemã, para a sociedade americana, para nós aqui, da sociedade brasileira, para todos que estão vivendo em meio a um levante populista, com políticos autoritários e um povo que está abrindo a sua caixa de pandora, repleta de ódio, de exclusão, de individualismos…
Vou transcrever aqui agora e nas publicações seguintes alguns dos trechos que considero fundamentais na leitura que estou fazendo. Precisamos acordar e entender nossas visões preconceituosas, limitadas, limitantes, tão entranhadas em nossa formação que chega a ser difícil enxergar, muitas vezes, as distorções.
Primeiro trecho que destaco:
Mas algo mudou na Alemanha. Agora odeia-se de forma aberta e descarada. Às vezes com um sorriso no rosto e às vezes não, mas na maioria das vezes sem nenhum escrúpulo. As cartas de ameaças, que sempre existiram, hoje são assinadas com nome e endereço. Delírios violentos e manifestações de ódio expressos na internet se escondem cada vez menos atrás de um pseudônimo. Se, há alguns anos, me perguntassem se eu conseguiria imaginar alguém falando dessa maneira novamente na Alemanha, eu teria dito que seria impossível. Para mim, era absolutamente inconcebível que o discurso público pudesse se brutalizar de novo desse modo e que as pessoas pudessem ser acossadas de forma tão desmedida. É quase como se as expectativas convencionais sobre como uma conversa deveria ser fossem reviradas. Como se os padrões de coexistência tivessem simplesmente virado de cabeça para baixo: como se aquele que considera o respeito pelos outros uma forma natural e simples de tratamento devesse ter vergonha; como se aquele que desrespeita os outros, sim, aquele que vocifera insultos e preconceitos, pudesse se orgulhar disso.
Pois bem, não me parece nenhum ganho civilizatório que alguém possa gritar, ofender e atacar de maneira irrefreável. Acho que não há progresso nenhum em poder colocar para fora qualquer baixeza interna só porque, nos últimos tempos, esse exibicionismo do ressentimento supostamente adquiriu relevância pública e até política. Como muitos outros, não estou disposta a me acostumar. Não quero que esse novo prazer em odiar livremente seja normalizado. Nem no meu país, nem na Europa, nem em nenhum outro lugar. (p. 17)
Já estou na metade do livro. Vale muito a leitura.
Emcke, Carolin. Contra o ódio. Editora Âyiné. 2020. p. 17.