Transcrevo aqui a abertura de um discurso desta grande escritora que é Toni Morrinson. Ele faz parte de um pequeno livro gratuito no formato digital do Kindle, com dois textos do livro A fonte da autoestima.
Texto 1: Racismo e fascismo.
Texto 2: O corpo escravizado e o corpo negro.
A transcrição abaixo provém do texto 1. Muito apropriada para os dias atuais.
I. Invente um inimigo interno, como foco e distração.
II. Isole e demonize esse inimigo dando rédea e amparando a circulação de abusos verbais e insultos explícitos ou cifrados.
III. Arregimente e crie fontes e distribuidores de informação dispostos a reforçar o processo de demonização, porque é lucrativo, porque outorga poder e porque funciona.
IV. Cerceie todas as formas de arte; monitore, difame ou expulse aqueles que desafiam ou desestabilizam os processos de demonização e deificação.
V. Destrua e calunie todos os representantes e simpatizantes do inimigo inventado.
VI. Alicie, entre os inimigos, colaboradores que aceitem e possam higienizar o processo de despossessão.
VII. Patologize o inimigo em mídias populares e acadêmicas; recicle, por exemplo, o racismo científico e os mitos de superioridade racial de forma a naturalizar a patologia.
VIII. Criminalize o inimigo. Em seguida, prepare, arrecade fundos e justifique a construção de arenas de contenção para o inimigo — sobretudo seus homens e, imperiosamente, suas crianças.
IX. Recompense o desinteresse e a apatia com entretenimentos monumentais e pequenos prazeres, discretas seduções: alguns minutos na televisão, algumas linhas na imprensa; um pouco de pseudossucesso; a ilusão de poder e influência; um pouco de diversão, um pouco de glamour, um pouco de relevância.
X. Mantenha, a todo custo, o silêncio.
Super atual. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência!
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