“Para Jorge Luis Borges o Paraíso deveria assemelhar-se a uma biblioteca infinita. Eu acho importante a biblioteca, mas não prescindiria de muitos outros benefícios, designadamente de um vasto oceano tropical, praias com palmeiras, um remoto pipilar de aves. Nem pode haver Paraíso longe do mar. Por outro lado, também não concebo uma biblioteca infinita como imagem do Paraíso se esta não tiver leitores a quem servir. Um livro não começa a existir a partir do momento em que um escritor o conclui, mas apenas no instante em que o primeiro leitor o começa a ler. E morre, quando o último leitor o abandona. Nesse meu Paraíso, portanto, teriam de existir muitos livros e muitos leitores para os ler, bebendo cerveja (água de coco, no meu caso), e conversando animadamente uns com os outros numa praia tropical.”
José Eduardo Agualusa, in: Jornal O Globo, 31 de julho de 2017.