As últimas semanas foram bastante estressantes, tensas. Minha mãezinha, a pequena fortaleza da família, enfartou em 15 de março e boa parte de minha vida – entenda-se liberdade de ir e vir – virou de cabeça para baixo.

Meus pais vieram morar em minha casa em 2017. Na época, papai ainda estava vivo e em tratamento quimioterápico. E minha mãe, sempre independente e extremamente ativa, era quem cuidava de todos. Hoje, porém, ela passou a depender de nossa atenção e zelo em tempo integral. Logo, nossas saídas regulares para curtir livremente a vida – praia, cinemas, teatros, exposições, restaurantes – deixaram de existir da noite para o dia, como se tivéssemos voltado à época de filhos pequeninos.

Mas, como nossa sede de cultura continua, o número de páginas de livros lidos por mês tem aumentado… E mamãe está, depois de idosa, sendo bem formada nisso também. Mesmo não tendo costume, já leu – e adorou! – Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo. Agora está terminando, entusiasmada e impressionada com a história, Hibisco roxo, da Chimamanda.

Leituras em voz alta, compartilhadas, tornaram-se bem-vindas também como parte do convívio e passatempo. Fiz isso durante o tempo em que ficou no CTI e mamãe adorou. Não tenho nada de contadora de histórias (preciso realmente fazer um curso, aprender muito), mas é maravilhoso saber que estou contando histórias para a minha velhinha, da mesma forma que ela me contava histórias, como a inesquecível Dona Baratinha.

Foi assim que gravei este vídeo totalmente informal, ontem, sem nenhum preparo visual, do jeito que estava, à vontade. Li Olhos d’água há poucos dias e hoje, sozinha em casa com mamãe, tive a oportunidade de ler para ela uma das histórias mais lindas do livro. Aquela, cujo título, nomeia a publicação. Livre de tudo, despenteada, sem maquiagem, brincos etc., vou ter, para sempre literalmente gravada, esta lembrança: