Um tapa na cara! O filme Grenn Book é um verdadeiro tapa na cara daqueles que dizem que não são racistas porque têm amigos negros. Também é um tapa na cara de quem diz que as cotas para entrada em universidade não podem ter distinção de cor, pois todo pobre é igual.
Lógico que estamos falando de um filme baseado em fatos reais dos anos 60 nos EUA. No entanto, várias situações e diálogos entre o pianista negro, Don Shirley, e o seu motorista-guarda-costas, Tony Vallellonga, um branco americano de origem italiana, expõem as diferenças e as demarcações bem específicas sobre os direitos de brancos e de negros no ir e vir. Distinções essas que, de muitas formas, perduram e se reproduzem, terrivelmente, ainda hoje nas (re)ações de muita gente por aí na sociedade.
A beleza do filme está em mostrar o processo de “aculturação” de um bruto branco e um culto negro, um em relação à realidade do outro. Ambos com suas pobrezas e dores, mas que se abrem a um processo de alteridade pela necessidade da convivência. Difícil, mas possível e riquíssimo. Basta imaginar o que seria um branco trabalhar como motorista de um negro levando-o pelas estradas do Sul dos EUA, por aqueles estados segregacionistas… Mesmo que essa parte da amizade não tenha acontecido na vida real – porque seria quase improvável o elo entre os dois naquela época -, o filme traz com isso uma mensagem de fé na humanidade ainda tão pouco aberta às diferenças. E eu gosto muito de ter essa esperança!
Adorei a força da atuação de Marheshala Ali, no papel de Don – personagem requintado e solitário; genial e autocontrolado; que vive, ao mesmo tempo, a glória e a humilhação. E Vigo Mortensen representa maravilhosamente bem a ideia de que os brutos também amam. É um bom carcamano, na sua torta visão de mundo.
O Livro Verde existiu de fato e era um meio de sobrevivência para seres humanos negros desumanizados de seus direitos humanos. Triste realidade de um mundo que parece não aprender com o passado.
Acrescento a este post, hoje, dia 25 de fevereiro, o resultado do Oscar: premiado como melhor filme e melhor ator coadjuvante, Marheshala Ali. Merecidos!