Vi o filme “A esposa”, que está em cartaz agora no Rio de Janeiro, durante voo ontem para Houston, Texas. Fiquei impressionada com o lugar-comum de uma história que já se tem sabida há muito, embora atualmente, no Brasil, haja um grande e crescente grupo conservador que teima em seguir caminho contrário a uma demanda feminista.
O longa-metragem apresenta a relação de um casal que se apoia na empáfia e pedantismo de um escritor vencedor do prêmio Nobel da Literatura às custas de sua esposa, a verdadeira artista. Ela, porém, passa a vida inteira sob os ombros do marido, deixado-se anular e se subjugar por uma falsa ilusão de que não seria lida simplesmente por ser mulher. Se, por um lado, na juventude das personagens, isso ainda era concebido – afinal foram raras as mulheres que conseguiram um lugar ao sol e, para isso, pagaram altíssimos preços em suas vidas pessoais -, por outro, manter essa mentira em prol de um amor que se enxerga unilateral é deprimente. Joan, a personagem de Glenn Close, se mostra, dessa forma, tão dependente, medíocre e idiota – e talvez até interesseira (para ser lida!) – quanto o marido.
Sinceramente, o que salva no filme, a meu ver, são os olhares da atriz. Close consegue transmitir em sua personagem uma raiva interior, um ressentimento, um remorso de não ter tido coragem de dar um basta em tudo aquilo apenas pelos olhos. É lógico que todo o corpo e a interpretação dela são maravilhosos. Os olhos, porém, são realmente uma imensidão. Eles me prenderam e me fascinaram porque ela chora a seco, fulmina o outro e destroça a si mesma apenas com seus olhares.
Quem ainda não viu o filme deve prestar bastante atenção nos olhos.
Quem gosta da temática sobre a luta da mulher na sociedade para, simplesmente, conseguir ter as mesmas chances e oportunidades que os homens nessa área da Literatura deve ver Collete (ainda em cartaz) e Mary Shelley (no Netflix). Ambos os filmes são bem interessantes.