Até que a morte nos separe?

25 de julho de 1959.
25 de julho de 2018.

Há 59 anos, meus pais disseram SIM um ao outro. Desse sim, muitas histórias se criaram, muitas experiências se viveram, alguns frutos se produziram: 3 filhos, 5 netos e, até o momento, 1 bisneto.

Desde que nasci, conheci com eles o amor, o carinho, a fé, a dedicação, a festa, a alegria, a mesa sempre farta, mesmo na simplicidade, para quantos chegassem, a casa sempre aberta para amigos e parentes… Conheci também, entretanto, a dor, as diferenças no modo de pensar e até a separação – mesmo que por um curto período desses 59 anos, mas que existiu e me/nos marcou. Dessa dor, porém, sobreveio o mais lindo perdão sofrido e a reconciliação desejada.

Se digo tudo isso hoje, há apenas 19 dias de falecimento de meu pai, é porque também aprendi muito sobre o amor, a entrega, o perdão e o casamento – principalmente, nos últimos dias de vida dele. Ver minha mãe em pé, ao lado de meu pai, perdoando-lhe os erros e pedindo-lhe perdão, mesmo já tendo feito isso há anos quando se reconciliaram; ver o amor, o zelo e a dedicação com que mamãe cuidou de meu pai até o último instante; vivenciar agora a falta que ela, mais do que todos nós, está sentindo dele… tudo isso me mostra que o SIM dito há 59 anos sobreviveu a todos os problemas – graves e leves – e isso me torna uma mulher muito mais forte, muito mais lúcida e muito mais ciente de minha humanidade. Porque não fui criada por pretensos super pais perfeitos, mas por um homem e uma mulher que tudo fizeram dentro de suas imperfeições para se amarem e me/nos amar.

A verdade é que com eles aprendi que não há príncipe encantado nem princesa bela num mundo cor de rosa; aprendi também que não há fórmula que mantenha tudo no lugar (do corpo à vida; da mente ao tempo); aprendi também que o amor supera a dor se a gente se deixar amar, mas também tem de desejar amar, porque amor de verdade vai e volta que nem ping-pong numa retroalimentação. E mais do que tudo, aprendi que o amor esculpido nos corações de um casal que se entrega à construção de uma vida comum consciente de suas limitações se mantém para todo sempre. Afinal, vida boa mesmo é isto: o amor imperfeito de um por outro e de outro pra um, sempre tentando se aperfeiçoar.

Só posso ser grata, profundamente grata e feliz por ter aprendido tanto com esses dois que me colocaram no mundo e me fizeram pertencer a essa linda e, felizmente, rica e complexa história. Só posso ser grata por tê-los tido inteiros intensamente nos meus 47 anos de vida e ainda poder ter mamãe por muitos outros anos que sei que virão. É essa gratidão que me alimenta e me renova, que me fortalece e me anima a seguir adiante, porque a vida é esse eterno construir e reconstruir-se, amar e perdoar. Espero, sinceramente, saber viver sempre esse amor em construção no meu casamento com João e transmitir esses ensinamentos, na prática, aos meus filhos.

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