Esta noite acordamos assustados com gritos de que um apartamento estava pegando fogo. Atordoados com a confusão, demoramos a entender e a descobrir onde era. Muito alto pra gente. 10o andar do prédio em frente ao nosso.
De repente, começam as sirenes de bombeiros e os moradores vão chegando ao pátio do edifício com bolsas, mochilas, computadores… De pijama ou de camisola. O fogo foi logo apagado, acho que pelo próprio morador, antes de os bombeiros chegarem.
Isso me permitiu calma e tranquilidade para avaliar bem a situação. Meu marido sempre reclamou comigo de meu desapego. Tenho muitas coisas e gosto demais de tudo o que tenho. Entretanto, não me apego a nada de forma dependente. Desfaço-me ou posso me desfazer do que tenho com muita facilidade. Sem traumas. Prendo-me apenas às lembranças e ao que representam para mim histórias da família: fotos, louça, peças de valor afetivo. Fora isso – que, com todo o carinho, geraria uma grande saudade -, na visão de que poderia ser comigo e de que poderia vir a perder tudo, senti, com muita tranquilidade e leveza no coração, que a vida representa para mim sempre um grande recomeço.
Tudo resolvido. Voltei pra cama com a certeza de que se tivesse de sair correndo só pegaria mesmo a bolsa que uso diariamente por causa dos documentos mais imediatos.
A preocupação seria unicamente com a vida. A de meu filho que inacreditavelmente não acordou de modo algum com toda a barulheira e confusão, e a de minha sogra, que teria de ver como poderia ajudá-la a descer de lá de cima do andar onde mora, estando eu aqui no 1o.