“A livraria” (2018)

Livros abrem os horizontes de quem os lê. A presença de uma livraria, então, pode gerar incômodo para quem não deseja sair da sua zona de conforto. Livros acessíveis tornam-se produtos a serem apreciados, consumidos. São um risco ao status quo… Essa é uma das primeiras regras para se manter o controle. Tão simples. Tão cruel.

A clareza da oposição à liberdade fica óbvia desde o início do filme. Não são meros caprichos de uma mulher rica. São caprichos da esposa de um General que se mostra mais forte que ele, mais arrogante e totalmente manipuladora. Afinal, seria fácil somar forças se a intenção final fosse a Arte.

Uma livraria não poderia ser também a porta para a criação de um Centro de Artes, um Centro Cultural? Mas a ideia não parece ser verdadeira… Afinal, o objetivo geral está mais para destruir a livraria do que para promover a Arte. E esse é o embate presente no longa “A livraria”.

A retrógrada população da cidadezinha inglesa – por passividade ou por ignorância, mesmo com algum encantamento pela livraria – segue seu tacanho destino e hostiliza a doce e suave viúva e livreira Florence Green.

Esse filme para mim também é um banho frio de realidade: nem sempre quem luta com todas as suas forças consegue realizar seus sonhos e chegar aonde deseja. Porque as pessoas não são simplesmente o que querem ser. São aquilo que a sociedade lhes permite, com raríssimas exceções (e o filme mostra isso também). Esse é o eterno jogo cruel de poder e de relações.

“A livraria” é um filme gostoso de se ver, mas certamente muitos irão estranhar. A história se desenrola inteirinha sob três características inglesas: a polidez mesmo na fúria, a vida pacata de uma cidade pequena e o clima com aquele ar cinzento. Mas não se assuste! Não há monotonia, apenas suavidade, até nos momentos dramáticos. A aparente formalidade e o (auto)controle britânicos dão um show à parte.

O riso é bem-vindo em diversos momentos, além dos diálogos e silêncios que dizem tudo.

Com a pequena Christine (a maravilhosa atriz-mirim Honor Kneafsey) nos diálogos com Florence (Emily Mortimer), por exemplo, a sabedoria e a esperteza da criança são cativantes.

Até a seriedade e a sisudez do personagem Edmund Brundish transformam-se em riso e encantamento pelo seu despertar para a vida…

Vale muito a pena! Afinal, acaba sendo uma verdadeira ode ao livro e à leitura.

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