“Grande Sertão: Veredas” é daquelas obras inesquecíveis. De leitura difícil pela extravagância da construção – embora muito comentada e citada -, poucos a leram, por inteiro, de fato. Entretanto, o amor intangível de Riobaldo por Diadorim e a negação de Diadorim a se revelar mulher a Riobaldo e se permitir amar e ser amada como a natureza impelia um ao outro é de uma beleza sofrida que transpassa os anos e atinge muita gente simples que os conhece só de ouvir falar e que sabe das lutas internas entre amor e poder, Deus e o diabo, ser homem e ser mulher, num mundo em que gênero masculino é poder e feminino, submissão.
Bia Lessa fez uma transposição deliciosamente emocionante da obra de Guimarães Rosa. A peça ainda em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro é de uma intensidade, que exaspera de emoção qualquer coração duro.
Houve momentos em que eu não sabia se respirava para colocar meu coração num ritmo aceitável ou se enxugava as lágrimas para conseguir continuar enxergando a encenação. Só sei que saí mexida, transbordando emoção.
Dizer que Caio Blat está brilhante é pouco. Por quase três horas ele se transforma no narrador Riobaldo e incansavelmente vive sua personagem intensa, extensa, elétrica, doída.
Luíza Lemmertz me surpreendeu em seu embrutecimento para viver o Reinaldo/Diadorim. Estava plena.
Não conhecia Luísa Arraes. Achei-a magnífica em todos os papéis que interpretou. Uma docilidade forte e marcante. E de uma coragem e entrega às personagens, que não é qualquer atriz que consegue. Fantástica!!!
Todo o elenco estava coeso e maravilhoso.
Depois de tanta emoção, me atrevi a ler uma página e meia, sem ensaio, sem precisão, sem revisão. Está do jeito que foi, de primeira, sem mascarar erros.
Este pequeno vídeo peguei no YouTube. Gosto das apresentações da Casa do Saber.
Aqui outro vídeo sobre a peça na época em que estava em São Paulo: