Depois que eu, meu marido e meu filho assistimos a The Post: a guerra secreta na 2a feira, ainda em Florianópolis em viagem de férias, ficamos conversando sobre jornalismo, o papel das fontes e o famoso caso Watergate, que ocorre pouco tempo depois do narrado nesse filme.
Resolvemos, então, ver Mark Felt: o homem que derrubou a Casa Branca (2017).
O filme conta a história de Felt, um homem traçado como fiel a seus princípios éticos em defender e honrar o FBI, onde trabalhava já por 30 anos quando o J. Edgar Hoover, idealizador e construtor da estrutura investigativa do Bureau, morre. Este sendo presidente e Felt, vice, nada mais que natural que Felt esperasse ser nomeado o novo presidente. Entretanto, o momento político é obscuro e o indicado por Nixon é alguém que nunca havia trabalhado lá, Pat Gray. Subordinado ao presidente, Pat chega com dois objetivos: recolher os arquivos confidenciais de Hoover (não consegue) e atuar com investigações menos independentes (como era praxe até então), mas silenciosamente contaminadas pelos interesses escusos do alto escalão da política americana.
Não sei por que, mas isso está me parecendo tão familiar em nosso momento histórico de investigação contra a corrupção…
Bem, o filme nos apresenta um homem duro, seco, visto por todos como totalmente íntegro e incorruptível. No entanto, é possível questionar essa heróica imagem quando ele mesmo burla as regras de não se levar pra fora do bureau o que se sabe lá dentro (tornar-se o Garganta Profunda, maior delator e informante do The Washington Post) e desobedece às ordens expressas de não continuar investigando o caso Watergate.
O ponto forte que me chamou atenção no filme e me fez perceber que vale a pena vê-lo para exercitar a cabecinha, queimar a massa cinzenta, pensar… é que Felt age de modo a infringir regras que abraçou a vida inteira em nome de algo que considera, naquele momento, mais certo e defende com todas as suas forças: destruir a corrupção política que está clara a seus olhos. O curioso, porém, é que uma fagulha de parcialidade é jogada ao espectador pra fazer seu juízo de valor sobre a idoneidade ou não dessa personalidade americana: Felt era filiado ao Partido Democrata e Nixon, republicano. Embora o pouco que conheço da História Americana desabone totalmente Nixon, será que Felt não se deixou agir com uma visão contaminada por seus interesses e visões buscando provas contra o presidente republicano a todo custo?
Não sei por que, mas, embora as situações sejam bem distintas, me senti um pouco em Curitiba.
Fiz uma pergunta acima só pra pensar mesmo, mas acho que toda investigação deve ser feita. Sempre! Porém, nada de dois pesos, duas medidas.
E este filme nos levou para J. Edgar Hoover (2011), com Leonardo DiCaprio. Vimos ontem pelo Google Play. Ainda vou escrever sobre ele.