Não tenho medo da morte. Cogito até bem tranquilamente a possibilidade de abreviar a minha vida caso não tenha mais condições de manter uma sobrevida digna. Afinal, a medicina pode proporcionar benefícios, mas também prolonga sofrimentos e vidas que se teriam ido antes sem recursos e tecnologias.
Entretanto, ver o envelhecimento de meus pais e, principalmente, o sofrimento interior de minha mãe, uma mulher tão pequena em estatura, mas tão forte e grande em ações, me desestabiliza. Este fim de semana está sendo muito pesado emocionalmente. Meu pai, abatido e debilitado com o tratamento contra o câncer, não passou nada bem. E minha mãezinha, estrutura e fortaleza acima de todo cansaço, ficou desolada com o falecimento de minha tia, irmã dela.
O choro, a perda e a dor parecem tê-la envelhecido, da noite para o dia, mais dez anos. A imagem dela, quando acordou hoje cedo, disse-me tudo. Alguns dos que creem como eu na vida eterna podem até julgar como falta de fé. Eu, porém, leio claramente como saudade, quebra de um elo físico e medo do que está por vir, o desconhecido, aparentemente mais próximo dela devido à idade.
Nossos corpos são tão frágeis e, talvez por isso, tão expressivos; nossas vidas, tão passageiras… Perdemos tempo com coisas fúteis e irrisórias desta vida, que não se basta a si mesma.
Cada vez me convenço mais de que precisamos viver plenamente cada momento de nossas vidas, enquanto ela não se esvai…