“A caça” (2013)

Em tempos de versões populares de “Escolas Sem Partido” estarem rondando nossa realidade, precisamos pensar nas inquisições que estão se criando em nossa sociedade e nos inquisidores forjados debaixo de nossos olhos, principalmente, pelo medo e pela ignorância multiplicados pela manipulação.

O filme “A caça” é, no mínimo, angustiante e mostra muito bem como se pode destruir a vida de uma pessoa por cegueira gerada pelo assombro social e pelas ações atropeladas em série, sem que se dê tempo para ouvir o outro, respirar, ponderar e refletir.

Acho que todas as pessoas que atuam no campo da Educação Infantil e Básica deveriam assistir a esse filme. E, em relação aos nossos tempos de desgosto político e de conservadorismo sendo levantado como bandeira para arregimentar multidões, deveriam também assistir a “A caça” todos os que se consideram entendidos em Educação e que adoram dar pitaco nas questões pedagógicas sem nunca terem pisado como profissionais numa sala de aula dos Ensinos Fundamental e Médio.

Refletir muito e investigar, de fato, os acontecimentos, antes de tomar determinadas decisões, é fundamental. E muito mais importante é saber investigar, sem conduzir as possíveis respostas para o que se imagina ou se espera (muito cruel!).

Ficou muito claro para mim como os profissionais da área e os pais conduziram, na história narrada, as perguntas para obterem as respostas “certas”, ou melhor, desejadas. Estes, despreparados para tal situação (óbvio!) e muito mal orientados; aqueles, sem uma formação adequada para lidar com questões delicadas e singulares, que exigiriam avaliações demoradas e com análises variadas para que se confirmassem as suspeitas.

Sabemos que acusações ocorrem todos os dias no âmbito escolar. Se, por um lado, há, com razão, a necessidade de se preocupar com casos como os de abuso e pedofilia; por outro, convivemos também com muitas denúncias falsas ou aumentadas. Sem a correta investigação, estaremos destinados a condenações precoces, ainda mais hoje com a inquisição das redes sociais.

A escola e seus profissionais estão aí, à mercê de uma sociedade sedenta por espetáculos em troncos e forcas.

Precisamos pensar nisso!

Mas também devemos ter a clareza para punir aqueles que, de fato, cometem crimes. E eles existem!

 

* Publiquei parte deste texto em meu antigo blog (“Mulher é desdobrável. Eu sou.”), no ano de 2013, quando assisti ao filme pela primeira vez. Atualizo-o agora com as questões polêmicas e polarizadas que estamos vivendo.

 

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