A Inquisição da Idade Mídia

Às vezes, me sinto furiosa; outras, sem forças. O que fazer quando você olha ao seu redor e vê que tudo está de cabeça para baixo? As pessoas estão enlouquecendo?!

Não! As pessoas sempre foram loucas. Loucas para gritar, para acusar, para apontar o dedo e cuspir no outro mesmo que seja seu vizinho, seu irmão, seu pai, sua mãe. Basta ter uma oportunidadezinha, que arregaça as mangas e mostra o punho. Mas só em nome de algo maior, claro, porque a luta, a guerra, vem em nome da paz. Mata-se um aqui, outro ali, por um bem maior. Muito maior, segundo eles: a moral e os bons costumes. Os valores reais da família. A (sua) Verdade.

Crucifiquem-no!!! Crucifiquem-no!!! Foi assim com Jesus Cristo.

Apedrejem-na! É adúltera!

Queimem-na! Queimem-no! Foi assim com muitos homens e mulheres acusados de bruxaria na Idade Média.

Prendam-nos!!! São judeus!

Enforquem esse negro perigoso!

Pedófilos! Isso não é arte! Hackeem suas redes sociais! Queimem-nos virtualmente! Cuspam em sua cara quando os virem na rua!

Está sendo assim hoje, agora, neste minuto em que escrevo…

O problema é que por trás de uma multidão enlouquecida, aos berros, principalmente nas redes sociais (como uma bola de neve que começa a rolar lá do topo), há um pequeno grupo colocando lenha na fogueira. Este se baseia na esperteza; aquela se perde na ignorância.

Muitos membros dessa multidão que vem se avolumando em progressão geométrica acreditam piamente estarem emitindo opinião, defendendo seus valores morais e direitos. Entretanto, estão – infelizmente em conjunto e com imensa força – propagando preconceitos, incitando a discriminação, a animosidade, a intolerância. São manipulados, independentemente do nível social e da formação profissional, porque são movidos pela paixão. E a paixão cega.

O outro grupo é formado por homens muito espertos, verdadeiros conquistadores, com uma fala forte, envolvente. Eles já detectaram o que as pessoas querem ouvir e sabem como guiá-las. Sabem tocar exatamente nos pontos fracos que fazem o coração pular, os olhos se abrirem, o sangue subir e a força interior gritar. São verdadeiras raposas, manipuladoras, que estão organizadas em bandos pequenos, movidos pela ganância por Poder e por… Dinheiro! Surpresos?! Nada ligado às bandeiras que levantam para iludir e dominar a opinião pública. Eles são racionais, articulados, dominam bem as redes sociais e sabem usá-las de acordo com suas necessidades. Também são ótimos produtores de conteúdo. Conteúdos estes baseados em falácias e distorções para atingir seus interesses escusos. Eles falam lindamente aos que gritam a fim de conquistá-los para que multipliquem suas ideias.

Como a paixão é avassaladora e contagiante, não vejo uma boa luz no fim do túnel por enquanto. Infelizmente, se as pessoas não perceberem o que estão fazendo, o que estão gritando e por que estão gritando, não haverá apenas a censura (absurda!) de uma exposição aqui, um corpo nu ali. Vamos começar a ser cobertos. Todos! Primeiro nossos corpos. Censura-se o concreto, o palpável. Depois as nossas mentes, o abstrato.  Lembrem-se de que para isso nada melhor do que o uso da força bruta.

Acho que estamos nos perdendo em nossa (des)humanidade. Estamos tirando de nós mesmos a essência da nossa natureza, que pressupõe a liberdade e o livre arbítrio. E o pior! Tem muita gente assinando um papel em branco para dar direito a uns poucos de nos tirarem totalmente o direito de, simplesmente, viver livres.

 

 

 

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