Escrevi este texto e o publiquei no FB há um ano, em 20/09/2016. Ontem ele reapareceu em minhas memórias e achei-o bem pertinente diante do que estamos vivendo na cidade do Rio de Janeiro.
É triste ver que em um ano a minha Cidade Maravilhosa não só perdeu a segurança utópica do período das Olimpíadas, como também piorou em relação ao estágio no qual se encontrava no período anterior.
Transcrevo-o aqui para ficar guardado para futuras reflexões. Espero, sinceramente, que, nos próximos anos, estejamos vivendo melhor. Minha cidade e o povo que nela habita merecem.
E agora, José?
A festa acabou.
A tocha apagou.
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Como ficará nossa Cidade Maravilhosa?
Nos últimos dois meses, usei e abusei de minha cidade tão linda e alegre, com uma sensação de segurança que não tinha desde que perdi a inocência da infância e a onipotência da juventude. Pisei em lugares que sonhava pisar, mas o medo não me permitia. Andei também por lugares em que costumo andar, mas sem a neura de assalto ou arrastões. Deixei meu celular na mão, não abracei minha bolsa, não tirei minha aliança, abri minha carteira na rua. Caminhei, por exemplo, na estação Central olhando para ela, como um filósofo que vê as coisas ao seu redor pela primeira vez. Atravessei à noite as passagens subterrâneas na Barra sem receio de me deparar com um ladrão ou estuprador. Cruzei o túnel da Princesa Isabel e passeei por toda a avenida, com alegria e dignidade, onde pivetes costumam nos ameaçar e amedrontar até mesmo quando estamos dentro dos carros com vidros fechados. Foram quilômetros e mais quilômetros de pés caminhantes pelas ruas sem medo de ser feliz. Foram quilômetros e mais quilômetros de metrô, BRT, VLT e trem.
Nove anos atrás fui assaltada com uma arma na minha cabeça. Passei muito tempo evitando algumas regiões da minha cidade com medo, ou melhor, com pavor. Mas consegui superar e voltar a viver, embora com diversos cuidados. Esses últimos dois meses, porém, me proporcionaram uma grande alegria. Eu vi que é possível! Nós sabemos receber muito bem. Somos competentes para realizar lindas festas. Temos um povo super acolhedor e alegre. Merecemos, então, ter também segurança. É possível! Mas precisamos de um trabalho concreto, correto, grandioso e, principalmente, duradouro.
O primeiro passo eu já estou fazendo e cada um aqui pode fazer também. Vamos ocupar nossa cidade. Vamos todos (“todos” para incluir os que fazem isso naturalmente no exterior!) usar os transportes públicos. Não podemos ficar presos, engaiolados em nossas casas ou em carros, quem os tiver. Vamos sair, frequentar as ruas, os parques, as praças, os museus, as casas de cultura, as bibliotecas, as lagoas e praias. Vamos usar tudo o que é gratuito, público ou coletivo. Precisamos exigir que todos esses lugares sejam e estejam sempre seguros para nós. E devemos denunciar, sempre, toda e qualquer situação de insegurança e destruição dos bens públicos.
A Cidade Maravilhosa é minha, é sua, é nossa!
Não podemos ficar nas mãos de políticos ladrões corruptos nem à mercê de traficantes e bandidos. A vida é curta. Precisamos vivê-la, e nossa cidade merece ser bem cuidada.