Colunista pede perdão após críticas a texto machista sobre estagiária
Publicado no jornal O Globo, em 12 de setembro de 2017
Crônica falava em ‘decotinho perverso’ e ‘coxas de fora’ de ‘loura-violão’
RIO — O colunista do jornal “Correio Braziliense” Guilherme Goulart pediu desculpas nesta terça-feira após protestos contra um artigo considerado machista. No texto intitulado “A estagiária”, publicado nesta segunda-feira, o jornalista contou como a estudante “Melissinha” havia começado na redação do tradicional diário de Brasília e chamado a atenção pelo “decotinho perverso”, pelas “coxas de fora” e pelo “balançar dos quadris, para lá e para cá”. Goulart foi muito criticado nas redes sociais por naturalizar o assédio no trabalho.
Na crônica, ele relata os olhares da “fauna masculina” para a “loura-violão” de 19 anos, que “precisou de exatos dois minutos para virar assunto na repartição”. Guilherme escreveu que a personagem era “amada por eles” e recebia olhares “não tão amigáveis” delas. A moça teria um único “defeito”, o namorado, que nunca ia aos bares com os colegas, e seria “logo esquecida” com a chegada de Daniela, a nova estagiária.
O texto foi retirado do ar após críticas, mas isso não impediu que os protestos continuassem. Segundo um post na página “Jornalistas contra o assédio”, o artigo mostra que a mulher ainda enfrenta objetificação dentro das redações do país.
Internautas chegaram a se perguntar, em tom de ironia, se a crônica foi mesmo escrita em 2017. “Asco”, escreveu uma usuário do Facebook. “Como se a Melissa não tivesse nenhuma outra qualidade e competência”, pontuou outra. “Romantizar o assédio e ainda publicar para os outros machos lerem”, frisou uma terceira.
Nesta terça-feira, Goulart publicou um pedido de “sinceras desculpas”, intitulado de “um erro sem perdão”, e reconheceu ter constrangido sua mãe, suas avós, sua mulher, suas filhas e todas as mulheres.
‘MOSTRAR O PROBLEMA’, JUSTIFICA JORNALISTA
Ainda assim, o profissional pediu espaço para explicar a controversa crônica: alegou que o artigo foi uma tentativa de mostrar algo que pode acontecer em diversos ambientes.
“Nesse caso, especificamente, criei uma personagem para mostrar que o problema do assédio às mulheres continua sendo uma realidade apavorante e assustadora — e é por isso que o problema deve, sim, ser abordado, apesar de eu tê-lo feito de forma totalmente equivocada”, escreveu o autor.
O jornalista ressaltou que, em 40 anos de vida e 21 de profissão, sempre pautou suas atitudes pelo respeito às mulheres. Com apenas dois chefes homens, ele diz ter aprendido “mais com elas do que com eles”. Goulart destacou que “errar é também desumano” e que vê necessário assumir o erro.
“Acredito que esse seja o melhor caminho para a transformação necessária para que as minhas filhas cresçam em um mundo em que não haja espaço para situações como a narrada por mim, nem textos equivocados como o meu”, frisou.