Número de negros na universidade sobe, mas segue baixo

Este texto foi publicado na Superinteressante em o5 de julho de 2017.

 

Só um em cada dez jovens negros estão na universidade, contra quase um em cada quatro brancos.

Por Bruno Vaiano

A USP aprovou na terça, dia 4, a implantação de um sistema de cotas sociais e raciais que passará a valer a partir do vestibular de 2018. 37% das 11.147 mil vagas disponíveis serão reservadas a estudantes que passaram todo o ensino médio em escolas públicas. Esse é só o primeiro passo: a parcela acima irá para 40% no processo seletivo de 2019, 45% no de 2020 e 50% no de 2021.

Dois quintos dessas vagas de escola pública serão dedicadas a negros, pardos e indígenas (PPI). Ou seja: 13,7% do total. Essa proporção reflete a composição demográfica do estado de São Paulo, em que dois quintos (37%) da população se declara preta, parda ou indígena, segundo o IBGE.

Isso significa que, até 2021, pelo menos um quinto (18,5%) dos calouros da maior e melhor universidade do Brasil serão minorias raciais e étnicas que estudaram o ensino médio todo em escolas públicas. A proporção tende a ser maior na prática por não levar em consideração a (pequena) parcela desses alunos que já passam pelo vestibular sem o auxílio de cotas. Em 2015, o total de negros ingressantes na USP foi de 391 alunos – 3,5% do total. Em 2016 o número caiu para 328, ou 3,2% dos bixos.

A medida é mais um passo de uma série de iniciativas do tipo. Em 2006, por meio do programa de inclusão social Inclusp, a USP passou a dar 15% de bônus nas notas das provas de candidatos oriundos de escolas públicas – 20% se eles se declarassem negros, pardos ou indígenas. A parcela de calouros de menor renda também deveria ter aumentado quando parte das vagas da universidade foram oferecidas no Sistema de Seleção Unificado, o SISU, em 2016. Mas a nota de corte exigida era tão alta que, na primeira edição, 11 cursos não encontraram ninguém apto a preencher suas salas de aula – 10,4% das vagas oferecidas a candidatos do ENEM ficaram vazias.

A medida adotada ontem busca reparar uma série de distorções históricas no acesso ao ensino superior. Uma das mais notáveis é que estudantes de baixa renda que fizeram os ensinos fundamental e médio em colégios públicos em geral vão para universidades particulares, enquanto quem passou a adolescência em colégios particulares, em que a qualidade do ensino em geral é maior, consegue passar pelo vestibular e vai para universidades públicas reconhecidas.

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