Até que ponto uma mulher pode ir para conquistar aquilo de mais precioso que lhe foi roubado: a liberdade de escolha; a liberdade de ir e vir; a liberdade para dizer não; a liberdade de se entregar a quem quiser, quando quiser?!
Até que ponto a morte física de um homem custa mais que a morte moral, a morte social, a morte psíquica de tantas mulheres?
O filme Lady Macbeth, que acabou de estrear esta semana, nos faz refletir sobre isso. Se, por um lado, podemos dizer que a personagem que dá nome ao filme, interpretada muito bem pela atriz Florence Pugh, parece ter algo que beira à loucura de um serial killer; por outro, é possível entender (justificar?!) suas ações como um acerto de contas de todas as mulheres que foram (e são?!) “assassinadas” em suas vidas pela sociedade patriarcal, dominadas pelos machos, que tudo podiam (podem?!) sobre elas. As cenas repetidas do início do filme mostram bem a prisão feminina, numa rotina entediante, sufocante e limitada das mulheres, e a total oposição em relação aos homens.
O mais curioso é que toda a força e coragem de Lady Macbeth não faz dela uma heroína feminista. Embora tenha invertido um possível estupro (que poderia ter sofrido) em uma relação na qual ela parece ser a cabeça pensante e dominadora, sua força e suas ações têm uma determinação específica: viver a grande e avassaladora paixão por um homem. O final, entretanto, deixou-me uma dúvida: foi mesmo somente um grito de desespero contra a opressão ou havia ali também uma loucura incontinente?